Um
grito vindo do céu
(conto)
Ouviu-se,
e deste estrondo singular um anjo destituído se fez carne para ser
igual e, ao que o anjo suporia dar conta, se fez homem. Um sofrimento
descomunal, e, foi assim que ele descreveu a tudo o quanto descobriu
sobre aquela mulher, no final:
– Você
pensa que sempre me enganou, se enganou… Sempre, mesmo, nunca fui
seu. Formulei com as minhas afirmativas de amor e de amá-la, para
salvá-la, salvá-la de seu desamor, porque ao valorizá-la pensei em
fazer-lhe amar-se a si mesma, afinal, dissera-me, “eu não me amo”
Queria, eu, tirá-la desta incapacidade de saber deste rico sabor do
amor, então em minhas súplicas, tive o comando do criador. “Vá,
se quer, mas não posso lhe ajudar!” Ainda que houve as ressalvas,
foi de meu amor que lhe dei, que quis lhe preencher.
És
neurônica pelo desamor, tanto que ao que se recusas, escraviza-se a
ele, ele é o medo e o ódio dos homens que em si, deles, tenta
esconder ao tentar dominá-los. Matasses seu pai do céu, ainda que
ele para lhe salvar, lhe deu a ele, na primeira pessoa de seu
ancestral, você o recusou! Depois vieram outros em sua vida, como a
cria que abomina, como o pai que pisoteia, como os amantes que lhe
usaram, e o que mais você odeia…
Você
odeia a doença mental e física que lhe corroí, e a pobreza que lhe abraça, essas, não sabe ou
finge não saber, advieram do próprio ódio que cultua, do próprio
desamor que, sei, reconhece, e renegas combatê-lo da forma correta…
Preferes a vingança sórdida. Você somente tem força em mantê-la,
sei, entretanto, que embora seja você, não é você que lhe domina,
mas é tão somente aquela que se entrega.
Sinto pena de você!
Porque ao me “vencer” torna-se automaticamente a perdedora “eu
não lhe mereço” lembra-se? Não veria ao caso, porque de fato eu
jamais fui seu, fui deste amor que lhe dei.
Ao
perguntar a Deus, de novo, se devia, ao menos ser seu amigo, ele me
respondeu em evasiva, com um muxoxo: “Vá, se quer, mas não
poderei lhe ajudar!” Talvez ao analisar a questão dada pela
inteligência, de que somente os inteligentes mudam, se eu não lhe
aceitar como amiga, estarei sendo incoerente, e portanto, hipócrita.
Assim sendo, entretanto – de novo –, há um paradoxo:
aceitando-lhe como amiga, se houvesse a grandeza deste amor, na
proporção da dor, esta, mais se alongaria, indefinidamente. “Eis,
talvez, que ser, a minha paga por meu ‘fracasso”.
O
que mais me fez ser seu temor foi o peso da verdade sem travas que
sempre lhe desnudei. Nunca às suportasses. Se as encarasses
tornarias um ser divinal, mas…Preferes, ao que parece, ser profana,
odiosa, que mente, que engana, que se faz de vítima, que vitimiza a
todos que lhe circunda, você não se perdoa.
E nesta própria pessoa
imperdoável em que se atém, as artimanhas do calor do sexo, as
deliciosas carícias, a voz aveludada, a supervalorização do outro
com os mais aparentes sentimentos sublimes, mas, vis. Seu canto
lindo, seus urros de êxtases… Em quais momentos fora você?
Moldou-se
com mármore de carrara, este seu coração de pedra. Afirma-se para
se furtar da mudança uma dualidade obtida pelas teóricas
intelectuais, reafirma não poder aquilo que poderia se não se
deixasse ser fraca e dominada por seu próprio demônio que em si
mesma criou. Determinou-se que todos haviam de lhe pagar. Mas,
talvez, Deus tenha lhe dado o ultimato – oro que não seja: lhe
quero feliz! –,contudo, não posso determinar a Deus a sua justiça.
Porém, agora, como amigo, posso lhe dizer tudo, porque ao ser seu
amigo, mais ainda, não posso lhe furtar a verdade. E, saiba: estas
verdades são incomparáveis com as suas, porque não são errôneas.
Não são baseadas no ódio que cultua, mas sim, no amor Divino que
lhe dei.
Em
tempo: você não conseguiu me vencer nem me matar, como o seu ódio
lhe determinava. Você me perdeu como homem que me tornei para ser
lhe anjo. O único que lhe poderia salvar, por que sou o que sou, e o
que sou lhe foge a compreensão dada a sua venda cerebral pelo
próprio ódio que lhe consome. Há um Deus chamado amor dentro de
mim. Mas ao contrário do que todos preferem pensar, Deus não nos
perdoam, mas nos aceitam diante de nossos esforços verdadeiros em
sermos melhores. Caso contrário nos abandonam!
É
nisso que este Deus aparece como amor verdadeiro, pois que ao nos
aceitar, administra, à conta-gotas, o que nos são suportáveis. Há
no positivismo, esta máxima inconteste, e, por seu livre arbítrio
lhe compete praticar. De qualquer forma, vá em frente, se preferes
assim –, e lhe digo: sempre poderei lhe ajudar, se quiseres abraçar
o amor!
E
assim, o alado ele, colocou a sua carta explicativa no correio
eletrônico e depois se desvês das asas invisíveis, que lhe dava o
poder de espionar todas as mentiras, e todas as verdades e todos os
enganos dos humanos. Seu poder só não podia mudar o livre arbítrio
dela. Tornou-se simplesmente um homem quase sem as sombras dos
poderes...
Deste dia à frente, se pôs, então, a vagar, nesta
vulgaridade dos comuns transeuntes, que caminham a esmo pelas
passarelas e escadarias do Masp e da Biblioteca Mário de Andrade,
sempre a procurá-la por ali, e, ao se cansar, corre a ir dormitar
sobre a Divina Comédia de Dante. …Como vemos, restara-lhe ao menos, diante do sono e do cansaço, a dignidade em poder se retornar espectro.
ZéReys Santos.